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Projeto de pesquisa aborda o negacionismo de danos ambientais e mudanças climáticas

Atualizado: 9 de jan. de 2023


O projeto reúne pesquisadores das áreas de comunicação social, cinema e jornalismo


Foto: Divulgação


- Eduardo Haleks


O negacionismo da degradação do meio ambiente tem se tornado um agravante no equilíbrio dos ecossistemas Devido aos contextos sociais e políticos de controle e manipulação de versões e dados, a negação desencadeia a desinformação e por consequência reforça as fake news e represálias contra políticas ambientais e povos indígenas.


No início de abril deste ano, o grupo de pesquisa Mídia, conhecimento e meio ambiente: olhares da Amazônia (UFRR/CNPq) iniciou as atividades do projeto “Negacionismo de danos ambientais e mudanças climáticas no cinema e no jornalismo”, a fim de investigar a ambivalência pós-colonial do negacionismo nas narrativas do meio ambiente e dos povos originários. O projeto tem duração de quatro anos, sendo finalizado no ano de 2026.


O objetivo é analisar as perspectivas de personagens de matérias jornalísticas, sendo fontes oficiais ou não oficiais, e suas demandas de classe, gênero e entre outras, a fim de compreender a desestabilização dos sentidos negacionistas a respeito dos impactos ambientais, como o garimpo ilegal, queimadas e aquecimento global, em narrativas cinematográficas, jornalísticas e literárias globais, nacionais e regionais. Partindo de discussões de especulação e interpretação dos danos ambientais e climáticos no cinema e no jornalismo.


Segundo o coordenador do projeto de pesquisa, Simão Farias, um dos fatores da criação da pesquisa é a necessidade de confrontar os efeitos das fake news na degradação da natureza.


“O negacionismo oficial por parte dos poderes públicos e social por parte dos usuários de mídias sociais a respeito das causas e dos efeitos de danos ambientais e das mudanças climáticas, chega num nível em que o jornalismo deve operar como um dispositivo regular interferindo nas tentativas generalizantes de desacreditar o trabalho de informação e educação ambiental”.


O projeto pretende partir da compreensão do negacionismo para então sugerir formas de enfrentá-lo em favor da humanidade e de todos os seres do planeta. A pesquisa é associada ao projeto “Comunicadores indígenas e territorialidades amazônicas: o protagonismo na criação de conteúdos para as mídias digitais em Roraima” a partir de interlocuções teórico-metodológicas decoloniais.



Segundo a docente do curso de jornalismo da UFRR e integrante do projeto, Vângela Morais, a união das temáticas abrange o olhar crítico das perspectivas de atravessamento da grande mídia na narrativa dos povos originários.




“Há muita aderência entre esses dois projetos de pesquisa, porque discutir o negacionismo sobre os valores ecológicos e ambientais e refletir sobre as práticas indígenas de comunicação fortalece os objetivos dos dois grupos, ao buscar contribuir, por meio de novas estratégias de comunicação, com visões mais interculturais de respeito à vida, ao meio ambiente e aos diferentes saberes da Amazônia, sendo assim pauta contínua dos povos indígenas”.


A integrante do grupo de pesquisa e docente do curso de curso de comunicação social da UFRR, Lisiane Aguiar , também reforça a importância da integração dos dois grupos de pesquisa a fim de enriquecer as reflexões epistemológicas críticas contra a opressão.



“Podemos pensar em pelo menos três formas de colonialidade: do padrão de poder capitalista que gera hierarquias; da colonialidade do saber que se pretende universal; e da colonialidade eurocêntrica do ser com os binarismos racional/não-racional, construídos por meio da ideia de superioridade patriarcal e “branca”, racial negro/branco e territorial, fornecedores de matérias primas e seus processadores. É nesse aspecto que tanto a comunicação ambiental, quanto a indígena ganham com os estudos decoloniais,devido a reflexões epistêmicas críticas que permitem uma maior emancipação para resistir contra sistemas opressores”.


As perspectivas de investigação científica e jornalística contra as fakes news ainda é um campo novo na comunicação social, e para a professora Eveline dos Santos Baptistella da Universidade do Estado do Mato Grosso, a investigação da pesquisa é fundamental para os estudos comunicacionais.



“Vejo a interdisciplinaridade como fundamental para investigar os fenômenos culturais e sabemos que a pesquisa em jornalismo ainda está começando a trilhar os passos na seara dos estudos animais no Brasil. Assim, a proposta é unir as metodologias de pesquisa em comunicação com o referencial teórico dos estudos animais para construir um modelo de abordagem que dê conta da complexidade da temática – especialmente porque sabemos que a hierarquia entre as espécies na imprensa ainda é um tema pouco estudado”.

O negacionismo também é responsável pelo aumento da invasão das terras indígenas e pela destruição da natureza, e para o integrante Willians Dias, o projeto vem responder questionamentos a respeito das causas e dos efeitos dessa degradação através de um olhar mais apurado.


“Muito se fala sobre a liberação da garimpagem, sempre relacionada a um crescimento econômico, sem preocupação, sobretudo, com os efeitos que essa prática pode causar.. Esse trabalho deve despertar a discussão sobre as consequências disso sobre a populações vulneráveis e vulnerabilizadas”.


Segundo o integrante, Mairon Compagnom, o projeto tem papel importante na defesa do meio ambiente e no combate à desinformação e ao negacionismo.


“Negamos que algo esteja acontecendo, enquanto a degradação á natureza aumenta, as poluições, o número de lixo nos mares, na mata aumenta. Então, esse negacionismo afeta ainda mais o processo de mudanças climáticas que já é forte e o projeto vem combater esse negacionismo, por meio das análises associadas às mudanças climáticas”.


O projeto de quatro anos inclui discussões em disciplinas sobre desinformação, fake news e negacionismo, realização de evento, pesquisa de pós-doutorado e iniciação científica, produção de artigos e atualização de manual de cobertura jornalística de mudanças climáticas. Tem o apoio do Programa de Pós-graduação em Comunicação e do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Roraima.


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