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Estudo aponta que 475 milhões de animais são atropelados em rodovias e estradas todos os anos

Atualizado: 15 de fev. de 2023


- Colaboração Grupo de pesquisa e Jornal Cacos

Fotos: Divulgação


Restos de um tamanduá bandeira morto na beira da BR 174, sentido Pacaraima

Com o crescimento do ambiente urbano e a ocupação cada vez maior do homem no meio ambiente, a relação com a fauna e a flora se sustenta em desarmonia. De acordo com estimativas do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, todos os anos 475 milhões de animais de pequeno, médio e grande porte são atropelados.


Os dados apontam que 17 animais silvestres morrem atropelados a cada segundo. De acordo com um levantamento de dados feito pelo Jornal Cacos, o Brasil possui 1 720 700 quilômetros de estradas e rodovias. Se pudéssemos percorrer todas as estradas brasileiras em um único dia, encontraríamos mais de 270 animais mortos a cada quase um quilômetro percorrido.


“As pessoas não estão preparadas para uma convivência com animais silvestres habitando as rodovias e as cidades. Nenhuma rodovia é feita pensando nos animais. As rodovias cortam as áreas de florestas e não há nenhuma preocupação em relação a esse problema”, evidenciou a professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso, Eveline Baptistella.



Sapos, serpentes, aves e mamíferos de pequeno porte são facilmente amassados pelos carros que percorrem as rodovias em alta velocidade, correspondendo a quase 90% dos animais mortos. Já animais de médio porte como tamanduás de espécies menores, gambas e macacos, representam 43 milhões de corpos no número total. E animais de grande porte como capivaras, veados e onças, correspondem a uma parcela menor, no entanto, muitos desses estão ameaçados de extinção.


Pesquisadora da área de estudos de animais e mídia, Eveline explica que a maioria dos animais mortos nas estradas estão em busca de um novo habitat, de água e de comida, destruídos devido a ação humana na natureza.


“Os animais silvestres estão sem habitat, sem água, sem comida e estão enfrentando diversos problemas para sobreviver no que seria o ambiente deles. Então eles migram para as cidades, para as áreas urbanas, para o entorno das rodovias”.

Muitos dos animais mortos estão também fugindo de desastres ambientais e se veem presos na dúvida de tentar atravessar a rodovia, podendo fugir de situações como incêndios, caso não sejam atropelados na estrada, ou ficar e torcer para não serem consumidos pelas chamas.


Mortes diárias



Um sistema para registrar o número de mortes diárias de animais nas estradas foi criado em 2014. O Sistema Urubu além de fazer uma contagem em tempo real de animais atropelados em todo o Brasil, pode ser utilizado também pela própria população para fazer o registro dos bichos encontrados nas rodovias.


“O sistema urubu é um aplicativo de ciência cidadã, onde qualquer pessoa, pode fazer o download e utiliza-lo em suas viagens quando encontrar um animal atropelado. A ideia é que a gente tenha o maior numero possível de usuários para que a gente possa mapear o território brasileiro, identificando quais são as áreas com o maior potencial de atropelamento”, destacou o biólogo Alex Bager do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologias de Estradas.

Até a data de publicação do presente material, a página na internet do Sistema Urubu constatou o atropelamento de mais de 38 milhões de animais de pequeno porte, quase 4 milhões de animais de médio porte e mais de 500 mil mortes de animais de grande porte, apenas nos primeiros 33 dias de 2023.



“O Sistema Urubu é importante nesse processo de mapeamento das estradas e dos pontos críticos, e esses dados são utilizados em pesquisas científicas, em políticas públicas e para identificar os locais onde existem mais atropelamentos no Brasil inteiro, ajudando com os acessos de rodovias, governos, Ongs e assim por diante”, destacou o biólogo.

Como diminuir o número de mortes?


Túnel para a passagem de animais

A pesquisadora Eveline Baptistella afirma que para a redução do número de mortes, um trabalho de mitigação precisa ser feito, visando iniciativas por parte do poder público para criar soluções que impeçam a proximidade dos animais às rodovias.


Cercas ou barreiras nas margens das pistas ou túneis, pontes e passagens subterrâneas podem ser algumas das soluções para evitar os atropelamentos, assim como a construção de passagens aéreas para animais que vivem nas copas das árvores também, como os macacos e as aves.


“Esses animais estão procurando alimento, esses carros estão sempre em alta velocidade, e não temos estratégias de mitigação, alternativas para esses animais atravessarem de maneira segura de um lugar ao outro. Não existe uma preocupação para construir estradas que causem menos danos para os animais”, ressaltou a pesquisadora.

Outra solução é a instalação de sensores ao longo das pistas que auxiliem os motoristas avisando quando animais estiverem próximos ou atravessando as estradas. A empresa especializada em manejo de fauna em rodovias, a ViaFauna está a frente do chamado Passa-Bicho.



Um painel eletrônico emite mensagens ou flashes de luzes, indicando aos motoristas a travessia do animal ou pedestre. Tanto os sensores, quanto os postes inteligentes localizados ao longo da via ,utilizam placas solares para alimentação e se comunicam por sinais de rádio, o que permitirá serem instalados com o mínimo de impacto na rodovia.


O sistema urubu, juntamente com outro aplicativo, o U-Safe, informa ao motorista, quilômetro a quilômetro, os trechos de riscos de acidentes na via, envolvendo, principalmente, animais de médio e grande porte.


“A gente identifica onde instalar, por exemplo, passagens de fauna, como túneis e pontes, para proteger as espécies. Redutores de velocidade, e agora, mais recentemente, estamos utilizando a inteligência artificial para criar modelos preditivos que antecipam as áreas de risco e auxiliam o motorista a evitar acidentes”, destacou Alex Brager.


Além disso, a instalação de radares também é uma solução, mas vale destacar que tudo parte da conscientização de motoristas durante a circulação nas rodovias.


“É preciso criar políticas para pensar na vida dos animais silvestres dentro das cidades no contexto em que eles tenham o mínimo de dignidade e respeito. É preciso criar estruturas de gestão de cidades que contemplem além da vida humana É preciso destinar verba para isso e criar políticas educacionais, para que nas escolas, nos ambientes de convivência, as pessoas passem a receber essa mensagem e comecem a refletir sobre a questão desse animais de uma maneira eticamente orientada, que eles olhem e falem ‘olha, isso daqui também é uma pessoa que tem direito a vida, que também está lutando para sobreviver e eu preciso agir de maneira ética em relação a isso’”, finalizou a pesquisadora Eveline Baptistella.
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