- Colaboração Grupo de pesquisa e Jornal Cacos
Cães e gatos nas ruas tendem a viver menos, podendo morrer devido à fome, envenenamento, doenças e atropelamento
Fotos: Arquivo/Divulgação
Encontrar cães e gatos em situação de vulnerabilidade na rua tornou-se uma cena comum há muito tempo. Muitos desses animais simplesmente já nasceram nas ruas, mas, por outro lado, uma grande parcela foi abandonada por seus tutores, sendo deixados para sobreviverem da própria sorte.
Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Pet Brasil (IPB) em 2020, traçando um comparativo com o mesmo estudo elaborado em 2018, o Brasil possui, aproximadamente, 185 mil animais abandonados resgatados por maus tratos, sob a tutela das ONGs (Organizações Não Governamentais) e grupos de Protetores. No entanto, estima-se que 3,9 milhões de pets estão nas ruas, sem nenhum tipo de tutela.
A mestre em Comunicação, Adriana Freitas de Carvalho, explica que o abandono desses animais parte da cultura em enxergá-los como objetos de uso para alguma utilidade, mesmo que seja emocional, e descartá-los quando passam a dar despesa demais, como quando envelhecem ou ficam doentes.
“A população de animais de rua são uma mistura de excesso populacional devido à falta de responsabilidade na esterilização do animal de estimação, quanto de abandono de animais que viveram anos em uma família que não os quer mais. Se existe um “culpado” por essa situação é a maneira pela qual enxergamos os animais. Enquanto a cultura não mudar, o problema tende a piorar”.
Os dados do IPB demonstram ainda que 8,8 milhões de cães e gatos vivem sob tutela das famílias classificadas abaixo da linha de pobreza, ou vivem nas ruas, mas recebem cuidados de pessoas ao redor. Adriana afirma que tal problema parte também do preconceito com determinados animais de uma mesma espécie, como os cães sem raça definida.
"Muitas pessoas compram animais de raça, sendo que centenas e até milhares de animais resgatados por associações de proteção poderiam ser adotados e são negligenciados por esse motivo. O comércio de animais de raça é ruim para aqueles abandonados e também para os animais vendidos. Primeiro, porque em muitos canis possuem péssimas condições de vida, segundo, também são descartados caso o tutor não se adapte, ou quando idosos e terceiro, por criar raças com padrões péssimos de saúde, dificultando a vida destas espécies, com, por exemplo, os pugs”, afirmou a pesquisadora.
Mortes nas ruas
Sem comida e sem moradia, os animais abandonados ficam soltos pelos bairros e se tornam um problema de segurança e saúde pública. Cães e gatos em situação de vulnerabilidade social tendem a viver menos, podendo morrer devido à fome, envenenamento, doenças e atropelamento.
Segundo a presidente da Ong Arca BV, Paola Schimitz, dos 33 animais que estão vivendo no abrigo, 14 foram resgatados de atropelamento. Além disso, todos os dias eles recebem pedidos de ajuda relacionados a cadela grávida na rua, cachorro doente, animais domésticos abandonados, entre outras denúncias.
“Todo dia recebemos umas cinco ocorrências dessas, só que não podemos ajudar sempre, às vezes pedimos para a polícia e muitas vezes precisamos desse lugar para ficar, afinal a gente está com o abrigo lotado”.
Com a superlotação no abrigo, são gastos mais de dois mil reais por mês apenas com ração, sendo 15 kg de ração por dia, foram outras despesas com aluguel, água, luz e materiais de limpeza para manter o espaço limpo.
“100% dos animais do abrigo já tiveram a doença do carrapato, que é uma doença que causa anemia profunda no animal, então eles tem que se alimentar bem para manter a saúde deles estável. Fora os remédios contra carrapato e vermífugos também que são caríssimos e eles tem que tomar periodicamente. Todo esse custo é pago com doações tanto dos voluntários quanto de pessoas de fora que se sensibilizam com a causa animal”, destacou Paola Schimitz.
Em Roraima existem outras duas Organizações Não Governamentais que atuam na causa animal, Radarr e Yawara, além de demais protetores individuais e associações que trabalham na causa, como a Gatinhos de rua e a Gatuxí.
Como ajudar?
No entanto, a redução de animais em situação de vulnerabilidade está muito além da ajuda de Ongs, associações, protetores individuais e pessoas do público geral, ela parte especialmente do cuidado do Poder Público com a causa animal.
“Cabe ao poder público melhorar o atendimento àqueles que não possuem meios financeiros de dar um atendimento veterinário decente aos seus companheiros de outra espécie, como hospitais veterinários e castração gratuita”, ressaltou a pesquisadora.
Mutirões de castração é uma das alternativas para controlar não só o crescimento populacional dos animais abandonados, mas também, evitar o surgimento de doenças, como explica a médica veterinária, Diana Glaucya Brandão.
Com um controle populacional desses animais em situação de vulnerabilidade, a realização de campanhas de doação podem ser uma solução para diminuir o número de animais nas ruas e não só isso, para evitar o crescimento no número de abandonos, a conscientização de jovens e adultos se torna indispensável.
“Campanhas massivas de conscientização da importância da castração também poderiam ser efetuadas. Mas de nada adianta se os tutores continuarem a enxergar os animais em suas famílias como espécies inferiores que podem ser descartadas como objetos. E essa mudança de paradigma é da sociedade como um todo, não apenas para quem tem um animal de estimação em casa”, finalizou a pesquisadora.
Vale destacar que, conforme o artigo 32 da Lei 9.605/98 abandonar animais é crime e garante, segundo a Lei Federal nº 14.064/20, sancionada em setembro de 2020, pena de até cinco anos, além de multa e proibição da guarda para quem cometer o crime. No entanto, devido a baixa pena baixa, é mais comum que sejam impostas penas alternativas, como multa e prestação de serviços à comunidade.
Quem quiser pode ajudar da seguinte forma:
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